sexta-feira, 20 de abril de 2007

"EU FICO COM A PUREZA DA RESPOSTA DAS CRIANÇAS, É A VIDA E É BONITA!"

Quanto custa um sorriso?
Essa pergunta não é mais uma dissertação anti-capitalista, anti-consumista, anti-globalização. É anti-mediocridade.
Hoje, acordei, atrasada, como não poderia deixar de ser, e sai correndo sem nem me lembrar de sentir o cheiro do novo dia. Tomei um banho correndo, sem me lembrar de sentir o prazer da água quante caindo sobre o meu corpo. Fui tomar café-da-manhã. Senti algo que talvez se aproxime do prazer ao abrir a geladeira e me deparar com um pedaço de pizza dormida: esse provavelmente teria sido o ápice do meu dia. Mas não foi. Não porque em algum momento eu tenha me esforçado pra que meu dia fosse melhor. Longe disso.
Enquanto engolia, sem prazer, esse pedaço de pizza, e reclamava que ia chegar atrasada novamente no trabalho, já que tinha mil coisas pra fazer, e uma lista enorme de coisas da faculdade pra ler, ouvi o barulho do portão. Era a minha empregada. Tudo bem, tudo normal, como todos os dias dessa minha rotina cinzenta e sem expressão.
Mas, e aí vem o clímax dessa minha incrível jornada, ela não estava sozinha. Ela estava com seu marido e seu filho, que tinha feito aniversário na semana passada. Minha mãe, que gosta muito dele, deu-lhe uma bicicleta, porque haviam roubado a outra.
Depois de trocas triviais de palavras, ele foi buscar a sua bicicleta para ir para casa com o pai. E isso continuava sendo mais um dia completamente sem graça...
Mas ele fez a única coisa que poderia salvar meu dia: antes de sair, voltou até mim, me deu um abraço sincero, mesmo que meio tímido, e disse com os olhos brilhando e um sorriso que não cabia no rosto: 'Muito obrigado, viu? Eu queria muito uma bicicleta!'
Meu coração ficou apertado. Não que essa seja uma cena daquelas super emocionantes de cinema. Não era. Mas, mesmo assim, quase chorei. E nem estou emotiva esses dias.
Por alguns segundos, não soube o que responder. E não respondi, mesmo porque ele não esperou por uma resposta. Crianças são assim.
Corri até o portão, e pude ver uma cena realmente bela, digna de fim de filme blockbuster: minha empregada, o marido e o filho, descendo a rua felizes, juntos. E a bicicleta.
Não. Não comprei o sorriso dele com uma bicicleta.
Não. Não importa se fosse uma bala.
Ele sorriu. Ele sorriu simplesmente porque não importa a ele, e nem deveria mesmo importar, se está atrasado, se o café tá frio, se o metrô tá cheio, se tem muita 'lição de casa'. Não, ele não se importa.
Ele se importa apenas com as coisas que realmente podem ter uma importância prática na vida dele. Ele se importa com o tempo que demora pra fazer a lição, porque mesmo assim a tempo para brincar. E andar de bicicleta. Mas podia ser a pé, ou de patinete, ou de carrinho de rolimã.
Então, pergunto novamente: quanto custa um sorriso?

3 comentários:

Pedro Sibahi disse...

sim, a pureza da resposta das crianças.
Que por mais q possa se perder com o tempo e a vida.
Temos o poder de resgatar em nós mesmos, ainda que com algum esforço.

Alice disse...

acho que um sorriso custa um mundo de esforços de se esquecer que tem um mundo fora...
mas me deu um peso na consciencia esse texto...

Bruna Escaleira disse...

Olhaaa
cada dia descubro o blog da mais um jornaleiro!
ah, esse futuro do jornalismo...

provando que não só de 'quintas i brejas' vivem os jornots 2007 ;) hehe

mas até de sorrisos de crianças!

>Ah, Tati, aqui é a Bru!

colocando um link no meu flog pro seu blog ;p
(www.fotolog.com/subbito)

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. (...)
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas."