quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Às ameixas...

De repente, os braços e as mãos ficam muito grandes, e nossos olhos ficam como ameixa em caldas...

Ela esperava deseperadamente por respostas que nunca viriam. Enquanto ele, sem nada saber, continua tranquilo fazendo tudo o que deveria, ou queria, fazer, respondendo periodicamente à aquela janelinha piscando insessantemente em sua tela. Ela, que sabia que conversas online eram tudo menos romance, olhava trêmula para a janela aberta.
Qual o prazer de sofrer, esperar na porta, olhar quando ele passa? Ela não sabia, e nunca saberá. Mas ela queria sempre mais, mais olhar, mais portas, mais conversas que nunca passam do 'oi, tudo bom?'. E ele, tímido, sempre se surpreendia com as investidas cada vez mais óbvias dela. E ela, achava que era convincente e discreta. Nunca é.
Ele queria saber o que aquela mente feminina pensava sobre ele. Ela só pensava, e pensanva, e pensando, imaginava o quanto ele pensava nela, mas ele não pensava.
Todos lhe diziam: 'homem é assim, minha cara. Se quer, vai e chega. Se não quer, te coloca de estepe.' Ela não queria ser estepe. Ele não sabia que deveria querer alguma coisa.
Ela sentiu seus braços desproporcionalmente grandes. Não sabia o que fazer com eles.
E ele, passando distraído, a viu sozinha no corredor e resolveu parar. Ela sorriu. Ele falou. Ela olhou. Ele se aproximou. Ela, coração disparado. Ele, de repente, sem saber por quê, cabeça a mil. Ela, lábios levemente contraídos. Ele, olhos dançantes acariciando o corpo dela. Ela, quase sem ar. Ele, quase sem se mover. Eles, olhos fechados, bocas unidas, um não-sei-que de sinos tocando.
Agora, as mãos sabiam exatamente onde era o seu lugar, enquanto por alguns segundo eles se tornariam um. Não era final de novela. Um dia aquilo acabaria.
Para onde olhar? Ela sentiu-se com tanto medo, que olhou para o chão. Ele, atordoado, olhava para ela com aquele olharzinho de quem não sabe o que dizer. Ela calou. Ele calou. E ficaram abraçados por alguns poucos segundos, até ele dizer. Ela não queria explicações. Ele não queria situações. Ela saiu. Ele sentiu.
O que havia sido aquilo? Por que aquele desejo incômodo de continuar ali, apenas abraçando-a, sentindo a sua respiração, como se não houvesse mais um mundo lá fora? Tolo. Sabia que não podia passar o resto da vida assim. Mas queria mais. Pelo menos mais um vez.
E ela, enquanto saia dali o mais rápido que podia sem parecer desesperada, sentia aquilo como um pesadelo. Quantas vezes ela havia sonhado com aquele momento? Meninas são bobas mesmo. Acham que ainda existem contos de fadas, com seus 'felizes para sempre'. Não para ela.
Ouviu seu nome. Coração disparado. Demorou ainda alguns segundos para se virar; sentia que suas pernas falhariam a qualquer momento. Olhou.

4 comentários:

Camila disse...

Antes de dizer que me sinto honrada, é preciso deixar registrado: meus olhos, ao percorrerem suas palavras, foram ameixas: por inteiro, por fazerem-me crer na realidade de tua utopia, por atraírem-me para fora da realidade, por tragarem-me à virtualidade destes desejos.
Saio de teu texto como ameixas que têm sua calda escorrida pelo cozinheiro. Agora são secas, desprezíveis, vendidas.

Tatiane Ribeiro disse...

Cami: não se esqueça.. sempre há uma chance. Nem que seja a mais ínfima, aquela meio conto de fadas. Só falta ouvirmos quando nosso nome é chamado no meio do corredor...

Camila disse...

enquanto nada disso acontece vou comendo ameixas

Fernanda Braite disse...

Seu texto me embalou, e eu fui lendo num ritmo diferente do que costumo ler as coisas. Quando chegou no fim, fiquei desesperada.
"COMO ASSIM? ACABA DESSE JEITO??? CADÊ O RESTO???"
Mas aí vi que continuava no outro post... hehehehe. E vou já ler o resto porque estou ficando afobada!

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. (...)
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas."